segunda-feira, 29 de junho de 2015

Inglês - parte 2

Não sei porque prometi continuação desse texto...

Bom, vamos lá.

 Meu inglês piora na frente de brasileiros. E brasileiro quase nunca sabe falar inglês muito bem. Indianos também não, mas eles são engraçados falando. Assim como os hispânicos. Gosto de ver Modern Family só para ouvir a Sophia Vergara falando inglês. Ok, também gosto de VER a Sophia.
Mas brasileiro tem um inglês estranho. Um inglês que aportuguesado. Facebook, por exemplo. Brasileiro fala "facêbuki".

Estraga todo aquele lance de entonação que falei.

Às vezes penso se não é um lance antropológico. Tudo no mundo é um lance antropológico segundo meu professor de Antropologia Filosófica, o Eduardo (que também explicava tudo com exemplos sexuais).

Portugal um dia foi os Estados Unidos do planeta. Foi o país dominante. Foi o país das tendências.

Hoje que tendência portuguesa seguimos? O bigode, talvez. Mas nem existe uma certeza se isso é genuinamente português.

Então essa é minha teoria. Brasileiros falam português, Portugal um dia foi o chefe de tudo, inconscientemente resistimos. Não queremos uma língua dominante porque um dia fomos a língua dominante. Rivalizando com os espanhóis, cabe lembrar.

Hoje em dia, 78% das vezes que leio um manual, leio em espanhol, pois os fabricantes não acham importante escrever um manual em português.

Que derrota, meus amigos.

Leite derramado

No meu primeiro dia de trabalho eu derrubei 17 sacos de leite. Pior, isso aconteceu nos meus primeiros minutos de trabalho.

Você imagina como isso é terrível? Se transporte para a cena.
A primeira tarefa empregatícia que te dão você caga. Você não só faz errado como você derruba 34 litros de leite no chão. E piora? Sim, pois você derruba essa quantidade absurda em uma câmara fria.
Cenário absurdamente triste, não?
Eu deveria esquecer? Óbvio que deveria. Mas nunca esqueci, pois esse episódio tem um grande significado para mim.

Ao derrubar os 34 litros de leite eu conheci um cara. O nome dele era Daniel e ele trabalhava para a Elegê. O trabalho dele era receber os produtos da Elegê e garantir a boa distruibuição no supermercado. Naquele momento eu dei sorte dele estar guardando os produtos na câmara fria. Ele viu meu desastre e logo ofereceu ajuda.

O Daniel era um cara bem legal (pena que não podia ver mulher), e me ensinou direitinho como deixar o chão limpo e de quebra me explicou o motivo do leite ter caído. Eu não tinha encaixado as caixas suporte. Eu lá sabia que caixas suportes encaixavam?

Em seguida ele cobrou o favor, pedindo que eu ajudasse ele a guardar o resto dos produtos dele.

E meus amigos, ali aprendi uma das coisas mais legais e úteis da minha vida: usar espaços.

O Daniel tinha um dom. Ele sempre usava todos espaços com sabedoria. Quando eu achava que não cabia mais nenhuma caixa, ele vinha e mostrava que eu estava errado. Aos poucos eu fui entendendo toda ciência da coisa. Aos poucos eu fui adquirindo essa habilidade.

É uma arte.

E vejam só, hoje sou publicitário. E amo meu trabalho. Amo aprender cada vez mais sobre design, amo criar. E criar tem muito a ver com destruir. Assim como design tem muito a ver com o uso dos espaços.


Não lembro se falei naquele dia, mas agora eu deixo registrado: Obrigado, Daniel.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Criança tem que ser estúpida

Eu estava no décimo primeiro minuto extra de espera.
Inquieto, claro. Sou ariano, e ariano quer tudo pra ontem. Odeia esperar. Todo mundo sabe disso, menos os dentistas. Eles adoram te fazer esperar.  Como fazem isso com arianos? Aí você pensa: "você acha que eles sabem seu signo?". Deveriam. Fazem um questionário para te cadastrar. Você responde até seu estado civil. E isso sem dúvida é menos relevante do que o signo. Pelo menos no dentista.
Já tinha lido todas as Caras disponíveis. Sabia quem tinha casado, separado. Sabia a idade de todos artistas. Porque eu adoro é ver quantos anos cada um tem (isso sempre aparece entre parênteses ao lado do nome de cada artista ou celebridade que faz alguma coisa que não é artística). Mas nem isso me distraia.

Aí olhei pro lado.

Ela deveria ter uns 8, no máximo 10 anos. Nunca sei definir uma criança dos 7 aos 10. Aos 11 já dá pra saber. Ela não tinha 11. E estava tão impaciente quanto eu. Bom, até aí tudo bem. Todas crianças são inquietas - inclusive todas parecem arianas. Mas o que me chamou atenção era em COMO ela se distraía.

Não que eu nunca tivesse visto uma criança com iPad, mas aquela menina... cara, parecia um coreano. Era rápida. Não piscava. Jogava um desses jogos coloridos que exigem 140 dedos. Nem sei qual era.

Estava impressionado. E tinha coisa por vir.

A mãe da menina prodígio começou um diálogo.

- Filha, olha que lega es...
- Sério que você vai me atrapalhar, mãe?
- Mas eu só ia te..
- Ai, mãe. Sinceramente (juro que ela falou sinceramente!), eu não to afim agora. To ocupada.
- Tá bom...

Aí veio a pior parte. Sim, tinha uma parte pior e mais surpreendente. A mãe vira para a recepcionista e fala:

- Viu como ela é esperta?

COMO ASSIM? A pirralha acabou de ser uma pentulantezinha. Ok, ela usou "sinceramente" com menos de 11 anos. Eu nem sabia o que era "sinceramente" com a idade dela. E sim, eu respondia pros meus pais, mas o máximo que rolava era um clássico "que saco" seguido de um castigo e não de um elogio.

É verdade que as crianças estão ficando mais espertas, mas isso é bom? Óbvio que não. Criança tem que ser estúpida. Tem que gostar de coisa boba. Não pode falar "sinceramente" por aí.

Primeiro porque essa esperteza é enganosa. A evolução acontece por etapas. As crianças Ipad pulam algumas. É bem verdade que elas já aprendem a clicar nos botões certos, enchem o vocabulário verbal com mil expressões e imitam os trejeitos de qualquer adulto, mas isso é ser inteligente? Creio que não. São ligadas, claro, mas fazem coisas muito automáticas. Imitam. E fazem isso muito bem. Porém, são cada vezes menos criativas. Tem cada vez menos aquela visão que desconstrói o mundo. Tem cada vez mais a visão do nosso mundo chato de adulto.

E você sabe, criatividade está diretamente ligada à essa fase da vida. Os melhores criativos são aqueles que buscam seu lado infantil. Que bricam com possibilidades como brincavam com objetos, sombras ou qualquer coisa que pudesse gerar uma história.

Hoje vem tudo pronto. Basta apertar os botões certos. Sinceramente? Não curto.

terça-feira, 16 de junho de 2015

Inglês - parte 1

Minha relação com Letras é confusa. 

No colégio eu não era mais que mediano em português. Mas também não existia um interesse muito profundo pelo meu idioma nativo. Na mesma época eu fugia mais do Inglês que um francês desarmado na Guerra dos 100 anos. Meus colegas frequentavam cursinhos e era muito mais avançados do que eu. Por vergonha e preguiça eu optei por Espanhol, que parecia ser mais fácil. Também não era grande coisa na língua que Colombo trouxe pra cá. 

Resumindo: na adolescência eu odiava Letras. 

Vamos combinar que não é nada difícil odiar alguma coisa na adolescência. Inclusive acho que me odiava também. 

Sorte que crescemos, perdemos as espinhas e passamos a gostar das coisas. Hoje minha relação com Letras é mais do que amistosa. É um caso amoroso intenso. 

Gosto de ler, gosto de ver as características de cada idioma. 

O Português, por exemplo. Acho um dos idiomas mais bonitos na ESCRITA. Ele é complexo, completo e possibilita muitas variações. Fico feliz quando vejo uma pessoa que sabe onde colocar uma vírgula e quase abraço quem sabe o que fazer com a crase. 

O Espanhol tem aquele lance da entonação. Qualquer mané que fale espanhol parece que está falando algo muito importante ou filosófico. Fora que xingar em Espanhol é muito emocionante. Ser xingado é terrível, só não é pior do que ser xingado em Alemão. Mas é bem difícil saber quando alguém não está te xingando em Alemão. O idioma todo parece um xingamento.

Gosto de todos esses, até do Alemão que parece me xingar sempre. Mas nenhum me impressiona mais do que o Inglês.

Até pouco tempo eu considerava o Inglês um idioma pobre. Hoje considero um idioma perfeito. Perfeito porque é simples, direto e extremamente expressivo. As frases são mais curtas, permitem uma entonação mais trabalhada. Olha como é legal falar "WHAT?" repentinamente. Uma palavrinha que pode ser dita com  tanta expressão.

Sempre fui crítico dessa dominação global do Inglês. Era desses que não falava "emitivi". Falava "emetevê". Sou defensor de expressões traduzidas, odeio quando alguém vem me dar um feedback ou quando alguém quer que eu trabalhe de freelancer. Ao mesmo tempo defendo a ideia do inglês ser o segundo idioma de todos países. Não como ensinam na escola no Brasil. Talvez como ensinam na escola na Holanda. Na Holanda todo mundo tem dois idiomas, porque desde pequeno todo mundo aprende a falar dois idiomas. 

De forma não oficial, o Inglês é o idioma do mundo, e ganhou essa posição não por ser o idioma dos Estados Unidos, que tem uma forte dominação cultural nesses tempos midiáticos. Quer dizer, isso ajudou muito. Mas se a China fosse esse dominante dificilmente as pessoas falariam Mandarim com tanta facilidade (anos atrás era moda ir pra aula de Mandarim, pergunta quantas pessoas concluíram o curso). Mas hoje em dia o mundo corre, e há muitas coisas para se conhecer. Nada mais justo que adotar o idioma teoricamente mais fácil de aprender. 

Continua...



sexta-feira, 5 de junho de 2015

Cidades #1 - Queenstown

De todas é a minha favorita. Por isso resolvi começar por ela.

E nada mais justo do que iniciar falando sobre sua maior qualidade: seu tamanho. Pequena. Tão pequena que podemos chamar de vilarejo. Tão pequena que fica difícil acreditar que o mundo todo procura ela.

Aí vem o grande contraste. Por lá existe um movimento tão intenso que não seria heresia afirmar que ela é pacata. Não, jamais! Queenston é jovem, é radical, é festeira. Uma química confusa e impressionante. Mais impressionante ainda é perceber que esse agito não mata sua alma.

Sim, cidades tem almas e lá existe a pureza que deveria fazer parte de qualquer comunidade: o importante é o que importa.

Um conceito que talvez seja difícil de entender por ser muito simples. E teimamos em viver na complexidade.

Por isso eu explico. Até pra eu entender.

Foram apenas 5 dias por lá e nesse curto período eu já sabia quem era o cara que me serviria o café na minha cafeteria favorita. Assim como conhecia o cara do ponto de ônibus e a mulher que regava o jardim às 9h. Se em 5 dias eu saquei isso, imagina quem mora lá. Os grandes protagonistas da cidade são pessoas como a professora, o carteiro ou a menina da loja de quadrinhos (Sim, tem uma loja de quadrinhos!).  Pessoas importantes, geralmente esquecidas nas sombras dos prédios das grandes cidades.

Lá elas tem a luz que merecem.

Você vê o quanto isso é especial? Pessoas tornam o lugar melhor. Provavelmente é influência da natureza.

E que natureza!

Carros não abafam os pássaros. Patos navegam pelos lagos. E os lagos transam com as montanhas. Ah, as montanhas. Não morra sem antes sentir o vento gelado que vem delas. Seu corpo merece isso. Sua alma também. Assim como seus olhos têm o direito de ver as árvores pintadas de vermelho no Outono por lá.

Aliás, conheça Queenstown no Outono. Espere para ver como fica no Inverno. Não corra, pois tem a Primavera, imagina tudo colorido? Já que está ali, aproveite e fique pro verão. Dizem que é o período mais agitado da cidade.

Talvez no meio disso tudo você vai sentir uma vontade imensa de ficar. Pois já vai ser um daqueles caras que todo mundo conhece. E uma daquelas pessoas que não encontrou mais motivos para sair de lá.

Quero voltar.